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sábado, outubro 11, 2003

"EURO-2004" 

Depois de Portugal, França, R. Checa, Suécia e Bulgária, garantiram hoje o apuramento para a Fase Final do Campeonato da Europa de Futebol a disputar no próximo ano no nosso país, a Alemanha, Dinamarca, Suíça, Grécia, Inglaterra e Itália (países vencedores dos respectivos grupos de qualificação).
Para definição do grupo de 16 selecções finalistas, falta apenas apurar as últimas 5, que resultarão dos play-off (eliminatórias directas) a disputar por Eslovénia, Holanda, Escócia, Letónia, Rússia, Espanha, Noruega, Turquia, P. Gales e Croácia.
As grandes surpresas foram: pela positiva, a Letónia e o P. Gales (apurados para os play-off), assim como a Suíça e a Grécia (vencedoras de grupo); pela negativa, a registar nomeadamente a eliminação da Roménia, Áustria, Polónia, Hungria, Bélgica, Sérvia e Montenegro (ex-Jugoslávia) e Irlanda.
Na fase de qualificação, os países com melhor desempenho foram: França (vitórias em todos os 8 jogos disputados), R. Checa (7 vitórias e um empate), Inglaterra (6 vitórias e 2 empates) e Alemanha (5 vitórias e 3 empates) – únicas selecções sem qualquer derrota.
Pode ver todos os detalhes aqui.

P. S. Mais um "blogue" a visitar, o do programa de televisão d'A Dois, Magazine 2010; do écran do televisor para a internet, para ficar a par das últimas novidades sobre ciência e novas tecnologias.
[369]

DIÁRIO - XII – MIGUEL TORGA (VI) 

“Coimbra, 25 de Abril de 1975 – Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação.

S. Martinho de Anta, 28 de Junho de 1976 – Não tenho mão em mim. Trabalho excessivamente, sofro excessivamente, vivo excessivamente. Vou às do cabo em tudo, como se cada minuto fosse decisivo no meu destino. Durmo acordado, ando a galope, morro por antecipação.

Albufeira, 1 de Agosto de 1976 – Metade de Portugal atravessado, debaixo de um calor escaldante. Beira Litoral, Estremadura, Ribatejo, Alentejo e Algarve. Um microcosmo a arder em febre natural e social, esta última patenteada nos cartazes profusos, na linguagem desbragada, na freima de comícios, no lixo acumulado, nas terras por amanhar. Não há dúvida: o país não é o mesmo de há três anos. A revolução que o sacudiu, para se dar altura, teve de conferir altura ao que destruiu. A maneira que encontrou de conseguir projectar a sua imagem, foi acelerar o processo subversivo.

S. Martinho de Anta, 6 de Setembro de 1976 – O Prémio Internacional de Poesia. Deus me proteja.

Chaves, 8 de Setembro de 1976 – Exausto. Em Portugal, a glória dura um dia, quando muito. Mas chega e sobra.

[368]

1948 – DIREITOS DO HOMEM 

“A Assembleia Geral da ONU aprova, por unanimidade, a Declaração Universal dos Direitos do Homem”.
[367]


1948 – ISRAEL 

“Proclamação do Estado judaico na Palestina. Os vizinhos árabes recusam-se a aceitar a situação imposta, originando consecutivas guerras israelo-árabes”.
[366]
sexta-feira, outubro 10, 2003

DIÁRIO - XII – MIGUEL TORGA (V) 

“Coimbra, 12 de Maio de 1974 – Um Domingo triste a ler papéis velhos, a ver se arranjava coragem para os rasgar. A ganga que um poeta deixa pelo caminho! Por cada expressão feliz, quanta ingenuidade, quanta burrice, quanta gaguez! A obra publicada também tem disso tudo, mas é beneficiada pela luz das montras. Adquire não sei que estatuto só pelo facto de se mostrar.

Coimbra, 19 de Julho de 1974 – Tem sido de caixão à cova. Pobre país! E o que estará ainda para vir! Mas não posso, nem quero, perder o pé na pátria. Terei de enfrentar o absurdo desta hora infeliz mesmo com ganas de voltar costas a tanto e tanto desconcerto. O pacto que assinei não foi com o azar das circunstâncias. Foi com a terra portuguesa e a língua portuguesa. E continuo a sentir a terra firme debaixo dos pés, e a poesia continua a cantar dentro de mim. O meu espaço de liberdade é o mapa de Portugal subentendido na folha de papel onde escrevo.

Coimbra, 27 de Julho de 1974 – Vamos finalmente dar independência aos povos colonizados. Uma independência que sem dúvida lhes irá custar cara, mas não há nenhuma que seja barata. Depois desse acto necessário e imperioso, Portugal ficará reduzido à tal nesga de terra debruada de mar. É a História que o exige, e oxalá que o destino também. Oxalá que ele, depois de tantos séculos de dispersão e perdição, nos queira reduzidos ao núcleo matricial para que, assim recuperados, possamos iniciar nova aventura. Nómadas no mundo, teremos de ser agora sedentários conviventes nesta Europa onde sempre coubemos mal e nunca nos soubemos realizar. Partir era a nossa carta de alforria. Hoje os caminhos não serão já os da demanda de espaços abertos a uma afirmação tolhida no berço, mas os de um achamento interior protelado séculos a fio.”

[365]

“ADEUS, LENINE” 

O retrato da RDA “ideal”. Um filme “histórico”; em Outubro de 1989, nas vésperas da comemoração dos 40 anos da República Democrática Alemã (a outrora famosa “DDR”), Mikhail Gorbatchov visita Berlim Leste, onde se encontra com o “camarada” Erich Honecker.
Passados alguns meses, recuperada de uma situação de coma, o filho oculta à mãe as radicais alterações entretanto ocorridas no país, “inventando” para ela um país ideal em lugar da mera “restituição” do país em que vivera.
A obsessão do filho transforma-o num coleccionador das memórias dos produtos e marcas desaparecidos com a queda do "Muro de Berlim" e do sistema totalitário que estava na sua base (desde os famosos Trabant, passando pelo café “Rondo”, até às conservas “Spreewald”).
O filme vem reavivar a nostalgia do leste (“Ostalgie”), cada vez mais objecto de análise por sociólogos, escritores e jornalistas, reconstruindo as memórias que foram como que “apagadas” na sequência da reunificação da Alemanha, em que houve uma procura de imitação de todos os aspectos da forma de vida “ocidental”.
A RDA, uma “ficção” criada pela ex-URSS na sequência da II Guerra Mundial, o “paraíso dos operários e camponeses” (os alemães de leste beneficiavam mesmo dos melhores padrões de qualidade de vida de entre os países do bloco comunista), uma “fábrica de campeões” (o desporto visto como um poderoso instrumento de propaganda) – mas também a “materialização” da visão negativa do “Big Brother” de George Orwell – ruiu como um “castelo de cartas” com a queda do "Muro de Berlim".
[364]

PRÉMIO NOBEL DA PAZ 

O Prémio Nobel da Paz 2003 foi hoje atribuído a Shirin Ebadi, uma iraniana que se destacou como sendo a primeira mulher a chegar à posição de juiz no seu país e pela defesa dos direitos humanos, e das mulheres e crianças em particular.
[363]

FIJI, SAMOA, TONGA… 

…São nomes de três “exóticos” países do Pacífico Sul que disputarão a partir de hoje o Campeonato Mundial de Râguebi, a realizar na Austrália.
Que conta com os “favoritos” do costume: para além da própria Austrália e N. Zelândia, também a África do Sul, e, do hemisfério Norte, apenas a França e Inglaterra – países finalistas dos anteriores torneios.
Na história da competição, a N. Zelândia foi o primeiro campeão mundial (em 1987), ao vencer na final a França. Em 1991, a Austrália saiu vitoriosa face à Inglaterra. Quatro anos depois, seria a África do Sul a sagrar-se campeã do mundo, tendo a N. Zelândia obtido o 2º lugar. Finalmente, em 1999, a Austrália tornou-se no primeiro país a “bisar” o título, desta vez frente à França (também vice-campeã pela segunda vez).

P. S. Algumas notas breves sobre outros "blogues": primeiro, uma chamada de atenção para a original apresentação da lista de "blogues" recomendados do Incongruências; a seguir, uma referência a um "blogue" a visitar, Grande loja do queijo limiano; por fim, o dirigente mais importante do planeta tem também já o seu "blogue oficial".
[362]

1947 – ÍNDIA E PAQUISTÃO 

“Até então sob domínio britânico, a Índia é dividida, a 15 de Agosto, em dois Estados: a União Indiana (população maioritariamente hindu) e o Paquistão (muçulmano). A tensão entre os dois irmãos-inimigos gerará três guerras em meio século e uma corrida regional ao armamento nuclear.”

“Notícias do Milénio”, publicação dos jornais do “Grupo Lusomundo”, Julho de 1999
[361]

quinta-feira, outubro 09, 2003

DIÁRIO - XII – MIGUEL TORGA (IV) 

“Coimbra – 25 de Abril de 1974 – Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares. Foram eles que, durante os últimos macerados cinquenta anos pátrios, nos prenderam, nos censuraram, nos apreenderam e asseguraram com as baionetas o poder à tirania. Quem poderá esquecê-lo? Mas pronto: de qualquer maneira, é um passo. Oxalá não seja duradoiramente de parada…

Coimbra, 27 de Abril de 1974 – Ocupação das instalações da Pide. Enquanto, juntamente com outros veteranos da oposição ao fascismo, presenciava a fúria de alguns exaltados que reclamavam a chacina dos agentes, acossados lá dentro, e lhes destruíam as viaturas, ia pensando no facto curioso de as vinganças raras vezes serem exercidas pelas efectivas vítimas da repressão. Há nelas um pudor que as não deixa macular o sofrimento. São os outros, os que não sofreram, que se excedem, como se estivessem de má consciência e quisessem alardear um desespero que jamais sentiram.

Coimbra, 1 de Maio de 1974 – Colossal cortejo pelas ruas da cidade. Uma explosão gregária de alegria indutiva a desfilar diante das forças da repressão remetidas aos quartéis.

Segui o caudal humano, calado, a ouvir vivas e morras, travado por não sei que incerteza, sem poder vibrar com o entusiasmo que me rodeava, na recôndita e vã esperança de ser contagiado. Há horas que são de todos. Porque não havia aquela de ser também minha? Mas não. Dentro de mim ressoava apenas uma pergunta: em que oceano de bom senso iria desaguar aquele delírio? Que oculta e avisada abnegação estaria pronta para guiar no caminho da história a cegueira daquela confiança?
A velhice é isto: ou se chora sem motivo, ou os olhos ficam secos de lucidez.”

[360]

E AGORA? (II) 

Algumas provas testemunhais de menores que contribuíram para a decisão da prisão preventiva de Paulo Pedroso são consideradas pelo Acórdão do Tribunal da Relação, como: “frágeis, irrelevantes e inverosímeis”!!!
Depois da mensagem "cifrada" da Provedora da Casa Pia, Catalina Pestana, (pré)-avisando para o que "aí virá" (mais personalidades "famosas" envolvidas?), é a credibilidade das investigações e das provas testemunhais que é assim (seriamente) colocada em causa.
Em que é que ficamos?
Estes factos "novos" não deixam de constituír uma fortíssima pressão para que a justiça aja com a máxima celeridade; não é sustentável continuar a prolongar por muito mais tempo esta situação de indefinição, em que se vai começar a duvidar de tudo...
[359]

“NE ME QUITTE PAS” 

Jacques Brel, uma das maiores figuras da história cultural belga (país que homenageou em “Le plat pays”), mas, mais que isso, um nome incontornável da música francófona, o homem que se entregava por completo nas suas actuações ao vivo, que viveu depressa e de forma inquieta, deixou-nos há 25 anos, ainda antes de completar o seu meio centenário.

Ao longo de cerca de 20 anos de carreira, editou sucessivamente os seguintes álbuns, agora em edição completa em CD – memórias que o tempo não apaga: Grand Jacques (1954); Quand On N'a Que L’Amour (1957); Au Printemps (1958); La Valse à Mille Temps (1959) – incluindo Ne Me Quitte Pas; Marieke (1960); Enregistrement Public (1962); Le Bourgeois (1962); Les Bonbons (1963); Olympia 64 (1964); Ces Gens Là (1966); Brel 67 (1967); J’Arrive (1968); L’Homme de La Mancha (1968); Ne Me Quitte Pas (1972); Brel (1977).

O Terras do Nunca vem recordando nos últimos dias as suas mais belas letras, pelo que para lá direcciono os leitores. De qualquer forma, é impossível não recordar as palavras escritas em 1959:

“Ne me quitte pas
Il faut oublier
Tout peut s'oublier
Qui s'enfuit déjà
Oublier le temps
Des malentendus
Et le temps perdu
A savoir comment
Oublier ces heures
Qui tuaient parfois
A coups de pourquoi
Le cœur du bonheur
Ne me quitte pas

Moi je t'offrirai
Des perles de pluie
Venues de pays
Où il ne pleut pas
Je creuserai la terre
Jusqu'après ma mort
Pour couvrir ton corps
D'or et de lumière
Je ferai un domaine
Où l'amour sera roi
Où l'amour sera loi
Où tu seras reine
Ne me quitte pas
…”

[358]

1947 – DOUTRINA TRUMAN 

"O presidente americano Harry Truman anuncia um plano de auxílio aos países ameaçados pelo comunismo. O mundo fica dividido em dois blocos de influência."
[357]

1947 – PLANO MARSHALL 

“Concebido pelo secretário de Estado americano George Marshall, constitui um programa de ajuda económica maciça a vários países europeus afectados pela II Guerra Mundial. O programa foi aplicado até 1952.”
[356]

quarta-feira, outubro 08, 2003

E AGORA? 

Como diz o Bastonário da Ordem dos Advogados, José Miguel Júdice, "o sistema (judicial) está a funcionar".
Paulo Pedroso viu a medida de coacção que lhe era aplicável passar do grau máximo de privação de liberdade (4 meses e meio de prisão preventiva, a qual havia sido confirmada pelo juiz Rui Teixeira há pouco mais de 1 mês), para a de nível mais baixo ("fixação de termo de identidade e residência").
Ao ouvir as declarações de Paulo Pedroso, retenho: "Esta era uma prisão ilegal e injusta..."; "... a certeza da minha inocência..."; "A pedofilia é um crime horrendo!".
Conforme escrevia Pacheco Pereira, a (quebra da) "palavra de honra" será de facto o último estágio da "perda de dignidade" de um ser humano?
A ser assim, crendo nas palavras de Paulo Pedroso - ou estarei a ser naif? -, poderemos estar perante um grosseiro erro judicial de proporções tremendas (?).
E como ficará a credibilidade da justiça se, de facto, algum (ou alguns) dos indiciados deste processo da "Casa Pia" não for provado culpado?

P. S. Mais um agradecimento, ao Analiticamente incorrecto.
[355]

“CONSTITUIÇÃO EUROPEIA” (IV) 

Por outro lado, o referendo constituiria uma oportunidade única para a divulgação e esclarecimento público do que está em causa, constituindo-se, paralelamente, numa forma de reforço e legitimação das futuras etapas da construção europeia.

Mas essa é uma responsabilidade que é colocada num patamar muito elevado, que a tradição – com base na (curta) experiência de referendos anteriores – não permite assegurar que possa ser cabalmente cumprida. Tal teria implícito um grande empenhamento de todos os responsáveis, do Governo, dos partidos da oposição, dos parceiros sociais, para garantir a credibilização do debate e uma decisão consciente, tomada tendo por base a posse de todas as informações relevantes pertinentes.

Em minha opinião – advogando, por princípio, e em abstracto, a sua realização – a fazer-se um referendo (com os elevados custos inerentes) apenas porque é “politicamente correcto” (para não contribuir para o aumento do “défice democrático”), não se aproveitando a oportunidade para um debate sério, objectivo, completo e esclarecedor, seria preferível que a “Constituição Europeia” fosse ratificada (como foram até agora, todos os passos da integração europeia, desde logo a adesão à CEE e, posteriormente, o Tratado de Maastricht) pelos representantes eleitos da população, na Assembleia da República.

A questão decisiva será portanto: Há vontade (empenho) de todos os intervenientes para fazer um referendo (a) “sério”?
[354]

“CONSTITUIÇÃO EUROPEIA” (III) 

A problemática do referendo da futura “Constituição Europeia” é uma questão demasiado complexa para ser tratada com base em ideias "simplistas" (não obstante, indiscutíveis), do tipo de “dar voz às populações” ou de o direito de opinião se tratar de uma “garantia democrática básica”.

A complexidade dos assuntos em debate não será facilmente transponível de forma clara, concisa e objectiva, para a generalidade da população.
O risco de “instrumentalização partidária” existe, podendo eventualmente o debate vir a centrar-se em torno de uma ou outra questão mais ou menos acessória da construção europeia e do papel de Portugal nesse projecto ou em “clichés” do tipo “federalista / anti-federalista” / “perda de soberania nacional”, ou outros similares.

Qual o tipo de redacção a dar à questão / questões a ser(em) referendada(s)? "Concorda com a “Constituição Europeia” com “estas” (a definir) características"? "Concorda ou não com a “Constituição Europeia”"? "Concorda com os poderes das instituições da União Europeia"? "Concorda com a (futura) posição de Portugal nos órgãos europeus"? "Concorda com as alterações aos Tratados da União Europeia"?

E se o resultado for “Não”? Obviamente, parece-me que não deverá ser esta a condicionante para a realização ou não do referendo. Se o povo português, em consciência, informado e conhecedor de todas as implicações em jogo, decidisse pelo “Não”, haveria que daí tirar as inerentes consequências – evidentemente, sem que tal implique o “abandono” da União Europeia…
(Continua…).
[353]

DIÁRIO - XII – MIGUEL TORGA (III) 

“Nova Lisboa, 30 de Maio de 1973 – O pé escreve as unidades; o automóvel adita as parcelas; o avião mostra a soma. Das três maneiras me tenho servido para levar desta terra uma imagem condigna. Da terra, repito. A dos homens não requereu tanto esforço. Igual por toda a parte, ao primeiro relance fica entendida. Dois lados de uma medalha: no verso, a fisionomia ávida e leviana do branco, que não conseguiu traduzir cinco séculos de presença numa missão histórica; no reverso, a do negro, humilhado na sua inocência tribal ou degradado na sua destribalização. Os muceques de Luanda são os bairros de lata de Lisboa. Em ambos se processa a mesma dissolução humana.

Luanda, 31 de Maio de 1973 – É pena. Falhámos por um triz. Bastava que tudo quanto aqui fizemos fosse por outra intenção. Que cada um dos que vieram mar fora trouxesse a convicção de que ser angolano, moçambicano, guinéu ou timorense eram maneiras heterónimas de ser português. Mas nenhuma escola da pátria lho ensinou a sério, nem algumas exemplaridades paradigmáticas foram suficientes para lho incutir.

A voar para Moçambique, 1 de Junho de 1973 – Tenho de me render à evidência: o homem que voa dimensiona o mundo de outra maneira. Que perspectiva poderia eu levar da imensidão africana, a calcorreá-la a passo de caranguejo? A vida inteira não chegaria para traçar nela meia dúzia de coordenadas. Assim, de um só relance, abranjo a infinita grandeza deste corpo febril e sonolento, ao mesmo tempo despido e inviolado. Corpo onde altas serras e cordilheiras infindáveis são rugas insignificantes, e rios intermináveis e caudalosos parecem veias exangues.”

[352]

1946 – COMPUTADOR 

“Aparece o primeiro computador digital electrónico, o ENIAC (“Electronic Numerical Integrator and Calculator”), concebido na Universidade de Pensilvânia (EUA) por John Eckert e John William Mauchly.”
[351]

terça-feira, outubro 07, 2003

“CONSTITUIÇÃO EUROPEIA” (II) 

Assim, no projecto de “Constituição Europeia”, agora em apreciação na Conferência Intergovernamental, são propostas as seguintes “inovações”:

Presidente – A criação do cargo de “Presidente do Conselho da União”, a eleger pelos Chefes de Estado e de Governo por períodos de 2 anos e meio, visa proporcionar uma face visível em reuniões internacionais; o grande dinamizador da futura Constituição Europeia, Valéry Giscard d’Estaing indicia manter aspirações ao cargo.

Comissão – Com o acréscimo do número de países-membros, parece ser impraticável assegurar a representação simultânea, de forma efectiva de todos eles neste órgão. Os chamados países “grandes” (Alemanha, França, Reino Unido, Itália e Espanha) defendem a redução do número de comissários; a Comissão passaria a operar em dois patamares: 13 comissários com direito de voto e até 15 sem direito de voto. O sistema de escolha dos comissários nacionais seria rotativo, de que resultaria que cada país teria um comissário com direito a voto a cada dez anos. Propõe-se ainda que o Presidente da Comissão seja eleito pelo Parlamento Europeu.

Parlamento – Prevê-se o alargamento de poderes do Parlamento Europeu, tendo direito de se pronunciar sobre mais questões. Os deputados a eleger por cada país deverão ser em número proporcional à respectiva população. A questão da ponderação de votos estará também em discussão na Conferência Intergovernamental, com a Espanha e a Polónia procurando manter os (27) lugares que o Tratado de Nice lhes conferira.

Direito de veto – Com o aumento do número de países-membros, este “direito histórico” arrisca-se a contribuir (negativamente) para a paralisia do processo de tomada de decisão. A regra deverá passar a ser a da maioria qualificada, restringindo-se a necessidade de decisão unânime no que respeita a assuntos externos, segurança social questões fiscais.

Ministro dos "Estrangeiros" – Prevista a criação desta figura, com poderes alargados ao nível das Relações Externas da União.

Cristianismo – No seu preâmbulo, o projecto de constituição faz referência às origens da civilização europeia, nomeadamente aos seus valores fundados no humanismo. Portugal, Itália, Espanha, Irlanda e Polónia defendem uma menção expressa à tradição cristã da União Europeia. A França, receando que outras religiões venham também a exigir uma menção similar, opõe-se a tal referência.
[350]

DIÁRIO - XII – MIGUEL TORGA (II) 

“… Em mangas de camisa, fui há pouco visitar a cidade. E o largo passeio pela urbe apressada, enfática, leviana, apertada num cinturão de muceques, agoirento anel de Saturno, não me desanuviou a alma. Pelo contrário. Quando regressei a casa, trazia duas metrópoles nos olhos doridos: uma, arrogante, retórica, de papelão, a negar o preto; outra, calada, tentacular, eczematosa, a negar o branco. Uma que parece um delírio febril de sitiados; outra um acampamento sorna de sitiantes.

Luanda, 20 de Maio de 1973 – A alma do negro será realmente um enigma, como me garantiu hoje um padre comilão num almoço de baptizado, ou será romba a compreensão do branco?

Santo António do Zaire, 22 de Maio de 1973 – Petróleo! Escrevo a palavra, creio que pela primeira vez, e quase que me admiro de a não ver alastrar no papel numa grande nódoa negra e gordurosa. Há conotações assim.

Sei que, onde ele aflora, nasce o oiro. Mas nem assim o amo. Ao ver do céu, há pouco, o primeiro poço a arder, perguntei a mim mesmo dentro do avião, apesar de o saber alimentado a gasolina, se aquela chama seria um lume de esperança ou um sinal de maldição.

Santo António do Zaire, 23 de Maio de 1973 – A obstinação de visitar o sítio que o meu comprovinciano Diogo Cão pisou pela primeira vez ia-me custando a vida. A raiva do Zaire parecia querer vingar-se em mim da violação de quinhentos.

O vento soprou, as ondas ergueram-se, a alma fluvial bramiu, e daí a nada a casca de noz em que eu navegava, a dançar na crista da fúria, transformou-se na morada do próprio terror. Milhas e milhas assim, em que o precário motor do caíque era o único deus a que a fé se apegava. Mas, felizmente, tudo acabou em bem, apenas no desconforto de uma molha da cabeça aos pés e na emoção gatafunhada de um poema.”


P. S. Mais agradecimentos: ao Matamouros, aDeus, Santacita (um "blogue quase conterrâneo"), novamente ao Drops da Fal e à Cláudia Bia / 100sal, pela atenção e simpático comentário.
[349]

1946 – ITÁLIA REPUBLICANA 

“Um referendo ao povo italiano para a escolha do regime, monárquico ou republicano, determina a proclamação da república, que é instituída em 18 de Junho”.
[348]
segunda-feira, outubro 06, 2003

“CONSTITUIÇÃO EUROPEIA” (I) 

Decorrendo do próximo (agendado para 1 de Maio de 2004) alargamento da União Europeia a 25 países, revela-se necessária a definição de um novo quadro institucional europeu.
Desde Sábado, em Roma, a Conferência Intergovernamental começou as negociações para a revisão dos tratados e definição do novo tratado constitucional da União.

Se, até agora, os 15 países membros foram percorrendo cada etapa – não obstante haver um pelotão da frente e um outro mais atrasado – em “conjunto” (posicionando-se geralmente Portugal num delicado penúltimo lugar, mas tendo conseguido superar a prova mais difícil, a da integração no Euro), a maior complexidade associada a uma União a 25 implicará provavelmente uma evolução no sentido de permitir a tão falada “Europa a duas (ou mais…) velocidades”, com uns países a “andar” mais rapidamente que outros – no limite, com cada país a poder adoptar o seu próprio ritmo de integração.

A assinatura formal da futura “Constituição Europeia” deverá ocorrer após a adesão dos novos países-membros (1 de Maio de 2004), mas antes das eleições europeias de Junho de 2004; a sua ratificação poderia realizar-se a partir de Outubro, processo que se pode estender pelos anos de 2005 e 2006 – pretendendo vários países proceder a referendo sobre o novo Tratado (incluindo Portugal, assunto a que voltarei proximamente). A entrada em vigor da nova Constituição seria apenas em 2009 (já depois da prevista adesão da Bulgária e Roménia, em 2007).

Na perspectiva da realização de amplos referendos nacionais, os responsáveis de cada país transportam a “espinhosa missão” de conseguir a aprovação de um texto que possa ser aceite pelas respectivas opiniões públicas.
Portugal parte para a conferência, aberto à negociação, mas pretendendo defender até onde for possível o princípio da igualdade entre todos os Estados membros, essencialmente no que respeita à garantia da manutenção de um Comissário por país (“ministro” integrante da Comissão Europeia).
[347]

NOBEL DA MEDICINA 

O Prémio Nobel da Medicina 2003 foi atribuído conjuntamente ao norte-americano Paul Lauterbur e ao britânico Peter Mansfield pelas suas descobertas no campo das imagens obtidas por ressonância magnética.
[346]

DIÁRIO - XII – MIGUEL TORGA (I) 

De Miguel Torga, escreveu José Saramago: “Algumas vezes, nestes últimos tempos, os nossos nomes apareceram juntos, e sempre que tal sucedia não podia evitar o pensamento de que o meu lugar não era ali… Achava que havia em Torga algo que eu gostaria de ter, e não tinha, o direito ganho por uma obra com uma dimensão em todos os sentidos fora do comum (…)”.

Durante esta semana, como "Livro do Mês", apresentarei extractos da obra de Miguel Torga, “Diário – XII”, que me pareceu bastante indicada para apresentação neste suporte dos "blogues", em que a componente "diarística" é tão característica.

“Luanda, 18 de Maio de 1973 – Revolvo-me insofrido na cama escaldante, a registar, ainda atordoado, as primeiras impressões de um cometimento a que eu próprio não consigo encontrar clara motivação.

O sentimento obscuro de que não podia ser protelado por mais tempo um encontro há largos anos apetecido e a crepuscular premonição de um adeus eterno talvez não sejam descabidos na crónica desta aventura que de tão longe me trouxe e tantas resistências me obrigou a vencer. Fisiológicas até. Mas venci-as, e aqui estou ao cabo de oito horas de pavor e deslumbramento que tiveram fim numa espécie de baque da alma. Angola!
Não foi certamente a mesma emoção que sentiu um mareante de quinhentos ao pisar estas paragens, mas quase. Dentro de mim ressoavam mil alvoroços, a par de cavos sussurros menos solares. Apenas o avião descolou, uma bisarma que parecia um comboio aéreo, depois de dar voltas na cadeira como os cães na palha do ninho fresco, tentei ler, ouvir música, ver cinema e, finalmente, imitar os restantes passageiros e dormir. Qual o quê!
Não se distrai facilmente o espírito empenhado numa descoberta tão medularmente necessitada, e muito menos o instinto de conservação vigilante.

Quando o monstro mecânico, numa leveza de pena, tocou o rectângulo negro que traços de luz balizavam, até me envergonhei do romantismo pretérito do meu terror. Saí então daquele espaço reservado e condicionado, onde nem o medo natural era legítimo, e respirei o ar livre das contingências. Um ar quente, húmido, pesado, pegajoso, que se me colou instantaneamente ao corpo como um grude invisível e me trouxe à pele a lembrança esquecida do Brasil. O bafo escaldante de uma terra onde sei que estou, de que já vi sinais concretos, e que só através desta respiração morna e pastosa me parece real.”

[345]


1945 – MUD  

“No ambiente de fim de guerra, propício à democracia, opositores ao regime constituem o Movimento de União Democrática e subscrevem listas em que se reclamam eleições livres e o fim da censura à Imprensa”.
[344]

1945 – NAÇÕES UNIDAS 

“Na Conferência de São Francisco, a 26 de Junho, 50 nações assinam a Carta da Organização das Nações Unidas, sucessora da extinta Sociedade das Nações.”
[343]

domingo, outubro 05, 2003

AGRADECIMENTOS SEM FRONTEIRAS 

Quero aproveitar este meio para fazer alguns agradecimentos públicos às pessoas que, mantendo “blogues” noutros países e línguas (Brasil, Espanha/Galicia, França, Suécia, Itália, Canadá) me têm dado palavras de incentivo, quer por via de comentários / mails, quer colocando o aaanumberone na sua lista de links recomendados.
Se mais nada houvesse para justificar a existência deste “blogue”, só pelos comentários da Fábia / Fal (Drops da Fal) já valeria a pena tê-lo criado.
Mas é com grande prazer que agradeço também ao César Valente (Carta Aberta), ao Martin Pawley (Dias estranhos), ao Cristiano Dias (Cris Dias), ao Francis Strand (How to learn Swedish in 1000 difficult lessons), ao Jean-Luc (mediaTic), à Martine (ni vu ni connu) e ao I Love America.
[342]

REVISTA(s) DA SEMANA 

Visão (2 Outubro)
”Mais de meio século depois do nascimento, a Europa comunitária está longe de sucumbir. O processo de integração conserva o dinamismo e prepara-se para enfrentar um novo desafio: a aprovação de um Tratado Constitucional.
Pedro Lynce demite-se mas nega favorecimento - O ministro da Ciência e da Tecnologia anunciou no Parlamento o seu pedido de demissão mas diz estar de consciência tranquila, negando ter favorecido a entrada da filha do seu colega de Governo na Faculdade.
O juiz do processo Casa Pia recusou o pedido do apresentador de televisão Carlos Cruz para ser ouvido sobre todos os factos que lhe são imputados.
O seu nome há muito que aparecia na lista de potenciais vencedores do Nobel da Literatura mas, em 2003, os 18 membros da Academia Sueca decidiram-se: o sul-africano John Maxwell Coetzee é o vencedor do mais prestigiado prémio literário da actualidade.”


Economist (3 Outubro)
A revista deita um olhar sobre as decepções oriundas de Washington: não foram encontradas armas de destruição massiva no Iraque; a ligação Saddam / Al-Qaeda não confirmada inequivocamente. Bush deverá prestar atenção ao que vem acontecendo ao seu principal aliado, Tony Blair, que tem vindo a cair nas sondagens, afectado pelo caso do suicídio de um cientista que referia o alegado exagero das informações que estiveram na base da decisão de despoletar a guerra no Iraque.

Time (6 Outubro)
A capa da Time apresenta como título: "Mission Not Accomplished.”
Sobre as armas de destruição massiva, a espionagem ocidental sugere que o próprio Saddam acreditaria que teria ainda algumas armas, pelo que os oficiais estarão genuinamente surpreendidos pelo facto de nada ter sido encontrado.

Pode ler mais aqui.
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CURIOSIDADE 

Porque hoje é domingo: "Como é que se forma o arco-íris?"

1945 – TRIBUNAL DE NUREMBERGA 

“Na cidade que costumava acolher os grandes congressos do Partido Nazi, entra em funções, no dia 20 de Novembro, o Tribunal Militar Internacional de Nuremberga. Objectivo: julgar os “crimes contra a paz, os crimes de guerra e os crimes contra a humanidade” praticados pelos principais dirigentes do III Reich, muitos dos quais são condenados à morte.”
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